
O mundo da inteligência artificial parece feito de códigos brilhantes e respostas instantâneas — mas, como toda mágica, há truques que preferimos não ver.
Nesta edição, a jornalista Karen Hao nos leva aos bastidores sombrios da IA.
E, entre crises de senhas, revoluções gen Z e roteiros perdidos de David Lynch, o que emerge é uma certeza: o futuro continua imprevisível, mas definitivamente já começou.
Updates desta edição
🤖 Por trás da mágica da IA: o trabalho invisível que ninguém vê
🌀 A Geração Z invadiu Cannes — e as marcas correram atrás
🔐 16 bilhões de senhas foram vazadas — e a sua pode estar entre elas
📂 ChatGPT agora lê seu Google Drive (e grava reunião também)
📉 40% dos projetos de agentes IA vão fracassar até 2027 — mas isso não é um problema
📖 Roteiro perdido de David Lynch pode virar livro
🤖 Por trás da mágica da IA: o trabalho invisível que ninguém vê

Quando você pergunta algo ao ChatGPT e recebe uma resposta estruturada, precisa e simpática em segundos, é fácil pensar: "uau, que tecnologia incrível".
Mas e se a gente dissesse que por trás dessa fluidez existe uma cadeia de trabalho humano intensa, silenciosa e muitas vezes traumática?
Pois é. A IA pode até parecer mágica. Mas não é.
O Império da IA
A jornalista Karen Hao mergulhou nesse universo e o resultado é desconfortável: milhares de trabalhadores ao redor do mundo foram (e ainda são) contratados para fazer o chamado "microtrabalho" que treina e modera os modelos de IA.

Karen Hao em entrevista. Foto: BBC/ Divulgação
Eles classificam textos, assistem a conteúdos extremos, filtram discurso de ódio e abuso sexual. Tudo isso por um salário baixo, muitas vezes sem apoio psicológico e sem sequer saberem o que estão ajudando a construir.
O queniano Mophat Okinyi, por exemplo, passou meses lendo relatos de pedofilia para treinar os filtros do ChatGPT.
O impacto? Trauma, perda da relação com a esposa e uma dúvida que ecoa: "O que recebi em troca vale o que perdi?"
Este não é um caso isolado. Karen Hao realizou cerca de 300 entrevistas com executivos e trabalhadores precarizados, espalhados por diversos locais do planeta além do Vale do Silício, como Quênia, Colômbia e Chile.
A investigação completa está em seu livro livro Empire of AI (Império da IA, ainda sem edição no Brasil), lançado em maio.
Karen Hao é formada em engenharia mecânica pelo MIT e teve acesso privilegiado à OpenAI em 2019, quando ainda escrevia um perfil para a revista MIT Technology Review.

Código molhado: o custo ambiental da IA
Além do fator humano, vem a pegada ambiental. Para processar tantos dados, é preciso energia.
Muita.
E água.
Os data centers que sustentam serviços de inteligência artificial consomem milhões de litros de água e geram um gasto energético que rivaliza com pequenas cidades.
Esse alto custo energético foi o motivo pelo qual o Chile barrou a instalação de um data center do Google no país. Isso porque a instalação usaria mais água do que toda a população local em uma região com histórico de seca.
No Brasil, o governo lançou uma política para atrair esse tipo de infraestrutura com o objetivo de processar mais dados dentro do território nacional. Isso deve gerar custos ambientais e a questão segue: qual é o preço do progresso?
A ilusão da inevitabilidade
Empresas de tecnologia, especialistas e entusiastas dizem que a IA é "inevitável".
Mas, para Karen Hao, isso é uma narrativa estratégica: quanto mais usamos, mais dados elas têm. Mais poder acumulam. Mais difícil fica regular.
E mais inevitável fica. Não porque é, mas porque nós escolhemos tornar assim.
Ela ainda questiona: se existem modelos de IA abertos, com menor custo ambiental e mais ética no processo, por que não investir neles?

Karen Hao em entrevista. Foto: BBC/ Divulgação
E o que fazer com isso?
Karen Hao não está aqui para dizer que IA é vilã. O que ela propõe, ao longo de Empire of AI, é uma mudança de perspectiva: parar de ver a tecnologia como algo neutro ou inevitável, e começar a enxergá-la como o que ela realmente é — um reflexo das escolhas, prioridades e contradições humanas.
Talvez o livro seja um alerta, mas talvez seja também um convite à curiosidade.
A mesma curiosidade que impulsiona o progresso também deve ser usada para questionar quem se beneficia, quem paga a conta e como dá pra fazer diferente.
Afinal, toda inteligência é construída. Inclusive a artificial.
🌀 A Geração Z invadiu Cannes — e as marcas correram atrás
Se você ainda acha que a Geração Z é só audiência, Cannes 2025 provou o contrário: eles são coautores, protagonistas e, muitas vezes, os verdadeiros criadores da campanha.
O festival foi tomado por ações que não falam para os Zs, mas com eles — e mais: no mesmo idioma, ritmo e tom. Marcas que performaram bem não fizeram publicidade tradicional, fizeram cultura. Jogos, caças ao tesouro com cupons, fandoms em modo troll e vídeos caóticos que só fazem sentido no universo Gen Z.
Casos como o “Call of Discounts” do Mercado Livre com Call of Duty ou “Tracking Bad Bunny” via Google Maps mostram um novo modelo de criação: interativo, participativo, com criadores no centro desde o briefing.
📌 Três lições de Cannes sobre a geração Z:
Fale como um Z, não como um publicitário.
Criador não é casting, é co-roteirista.
Performance boa é aquela que gera cultura (e dados).
Próxima parada? O mercado entendendo que essa geração não é o futuro. É o briefing.
🔐 16 bilhões de senhas foram vazadas — e a sua pode estar entre elas
Sim, você leu certo: dezesseis bilhões. Apple, Google, Facebook, Telegram, GitHub, serviços do governo — ninguém ficou de fora.
Pesquisadores da Cybernews identificaram o que pode ser o maior vazamento de dados da história: uma coleção de 30 superbases com credenciais fresquinhas, prontas para cair nas mãos erradas.
O pacote vem completo: login, senha e até o site de origem, tudo bonitinho e pronto para ser usado em golpes e invasões. O problema não é só técnico — é um convite aberto para phishing, roubo de identidade e acesso a informações sensíveis.
O que fazer agora?
Troque senhas, use um gerenciador, ative autenticação em dois fatores e — se possível — comece a usar passkeys. E, por favor, não repita senha.
📂 ChatGPT agora lê seu Google Drive (e grava reunião também)
Se você achava que o ChatGPT já era multitarefa, segura essa: agora ele integra com Google Drive, Dropbox, Outlook e Gmail — e ainda grava reuniões direto do desktop.
A novidade, disponível nos planos Edu, Pro e Enterprise, permite puxar dados direto das plataformas conectadas e responder com base em seus documentos. E o modo gravação é destaque: capta áudios, transcreve e transforma em resumos, planos de ação ou até código.
📎 Vem aí: conectores personalizados, integração com apps internos e mais recursos para transformar voz em ação.
📉 40% dos projetos de agentes IA vão fracassar até 2027 — mas isso não é um problema
A consultoria Gartner prevê que 40% dos projetos de agentes de IA serão cancelados até 2027. (fonte do relatório aqui)
Motivos? Implementação cara, retorno incerto e muita empresa vendendo chatbot simples disfarçado de agente inteligente.
Mas isso não é o fim — é uma depuração. Agentes autônomos têm futuro, sim, mas exigem estratégia, maturidade técnica e foco em produtividade real.
💡 Projeções:
Até 2028, 15% das decisões de trabalho devem ser tomadas por agentes autônomos.
Um terço dos softwares corporativos incluirá IA agêntica.
Moral da história? IA só vale se resolver problema de verdade.
📖 Roteiro perdido de David Lynch pode virar livro
David Lynch, mestre do surreal, pode voltar — nas páginas.
O roteiro “Unapologetic Genius”, com quase 600 páginas e vibes Twin Peaks, quase virou série na Netflix antes da pandemia. Agora, após sua morte, os filhos consideram lançar o material como livro.
A obra promete mergulhar mais uma vez no universo lynchiano: onírico, estranho, fascinante. Para fãs de Veludo Azul a Cellophane Memories, é um presente póstumo com gosto de café preto e realidade dobrada.
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🎵 Esta edição foi composta ao som de Mermaid Avenue, de Wilco and Billy Brag.
O que é o Update?

Para quem olha pra frente e quer espiar o futuro. O Update é feito para manter você atualizado não só sobre o que aconteceu, mas sobre o que está acontecendo.
Aqui você encontra uma seleção de atualizações que estão impactando o mundo no presente contínuo. E, às vezes, no futuro do presente. Talvez não dê pra prever, mas dá pra imaginar o que vem por aí.





